Quando leio notícias como esta: https://www.valor.com.br/cultura/6413613/o-novo-normal-dos-negocios-e-aliar-lucro-criterios-mais-sustentaveis-de-aplicacao
sinto um misto de alegria e tristeza
Alegria ao ver pessoas queridas e comprometidas
como personagens e fontes da/na matéria.
De fato, essa galera (e um monte de outras pessoas)
seguem tocando o bumbo deste setor de impacto
com muito entusiasmo e persistência
e têm gerado vários ótimos resultados.
O que a reportagem não mostra
(são raras as que mostram)
é que nem tudo são flores nesta caminhada.
Há alguns senões nesta versão da história:
1. que a indústria do investimento de impacto segue concentrada
nas mãos de peixes grandes, muitos deles, inclusive
contribuíram para gerar as desigualdades que temos hoje.
Em outras palavras:
Parte do mesmo mercado que escalou acumulação de capital –
leia-se: rentismo e a desigualdade –
é o mesmo que surge (com ferramentas similares, se não as mesmas)
para ‘resolver’ esses problemas.
Pra quem quiser aprofundar essa análise
mais crítica sobre essa parte da história
recomendo muito a leitura do livro Winners Take All
http://www.anand.ly/winners-take-all
2. que há muitos ‘lados Bs’ nesta história:
- há diferentes tipos de negócios de impacto
– os periféricos, as OSCs e cooperativas e tantos outros ‘patinhos feios’ –
que raramente são personagens nas matérias
Há diferentes tipos de investidores e
intermediários tentando fomentar esse ecossistema.
Em outras palavras:
Há muita vida inteligente fora deste círculo de grandes fundos
grandes investidoras, grandes empresas, mas elas têm tido pouca visibilidade.
Aqui uma ótima reportagem sobre o tema,
que justamente tenta mostrar outros pontos de vistas: https://revistatrip.uol.com.br/trip/os-negocios-de-impacto-sao-cada-vez-mais-populares-no-brasil-na-pratica-essa-teoria-funciona
3. talvez esses pontos anteriores é que criem desafios
de aproximação de atores que já promovem
impacto socioambiental positivo há tempos
mas seguem críticos com esta onda do ‘impacto’.
- filantropia comunitária
- economia solidária
- coletivos locais
- movimentos sociais
- terceiro setor em geral
Sim, boa parte deles não tem modelo de negócio
e não lidam bem com a tal ‘performance financeira’
-pilar essencial da agenda de negócios de impacto.
Mas ao invés de construirmos pontes e diálogo entre os
diferentes ‘fazedores’ de impacto
e fortalecer a dimensão ‘econômica’ deles, acabamos, sem perceber
reforçando narrativa equivocada
de que ONGs (e afins) são ultrapassadas
e que o ‘certo’ agora é virar negócio de impacto.
Que possamos ao menos
perceber e acolher
outras narrativas
outros olhares
e outras formas ‘de vida’
no ecossistema de negócios de impacto.
Que possamos enxergar outras dimensões desta agenda
suas contradições e inconsistências
e encontrar espaço de colaboração neste ’50 tons de cinza’.
É por essas e outras que meu novo livro se chama
– Impacto na Encruzilhada –
(compre aqui: https://mymag.com.br/projeto/encruzilhada/
ou aqui: https://www.amazon.com.br/IMPACTO-NA-ENCRUZILHADA
Quando os peixes grandes chegarem pra valer nesta agenda
não custa indagar:
- quem pagará o pato?
- quem será convidado ao ‘banquete’?
- quem será barrado na portaria?
Resumo da ópera:
– a agenda de negócios de impacto, venture philanthropy, blended finance e afins veio pra ficar.
Não se trata de temas da moda, mas novas formas de endereçar questões socioambientais a partir de lógicas financeiras mais robustas.
Essa ‘financeirização’ do ‘impacto’ vem com força e trará muitas alegrias (para alguns) e muito choro e ranger de dentes (para outros).
Há espaço para ‘hackear’ esses ecossistemas e fazer avançar
os muitos lados Bs desta agenda.
Claro, essa forma de fazer
é e será sempre a mais desafiadora!
Por isso estamos aqui.