Que legados a pandemia poderá deixar no chamado campo do Investimento Social Privado (ISP)?

neste novo artigo refleti sobre alguns caminhos possíveis

Boa leitura ; )


Sem dúvida, a pandemia tem trazido muitas mudanças em todos os setores da sociedade. Assumindo uma perspectiva mais positiva, procurei refletir quais seriam os possíveis legados que esta crise pode deixar ao chamado campo do Investimento Social Privado (ISP), notadamente pela atuação de institutos, fundações e empresas.

Os recordes de doações e a boa onda solidária pelo país tem gerado reflexões e um certo burburinho no setor que vão em 2 direções. A primeira segue a linha do ‘veio a crise e a filantropia se mobilizou e mostrou sua força’, enfatizando o recorde de doações, as inúmeras iniciativas sociais em todo o país e seus impactos positivos junto a comunidades e organizações da sociedade civil. Sem dúvida, sem todo esse arsenal solidário, estaríamos num contexto ainda mais dramático.

A segunda linha busca propor mais profundidade na percepção desta boa onda solidária, refletindo se esse volume de recursos vem acompanhado de um fortalecimento institucional do conjunto de projetos, iniciativas e organizações que seguem atuando ‘na raça’ em todo o país. A pergunta que fica é se essas organizações sairão com sua musculatura institucional fortalecida ou enfraquecida após a pandemia? A conferir.

Retomando a pergunta central deste artigo – Qual o legado da pandemia ao ISP – tenho visto, ao menos, 4 legados possíveis que a pandemia pode deixar para a atuação do ISP.

1. Mais ágil e menos burocrático

O modus operandi do setor é frequentemente criticado por ser ‘pouco ágil e burocrático’ teve de ser reconstruído face à urgência da pandemia e seus reflexos.

Fundos foram criados, processos flexibilizados e acelerados, evidenciando que é possível ser mais ágil sem abrir mão de seus processos de compliance e integridade. A pergunta que fica é: esse legado permanecerá no pós-pandemia? Haverá espaço e tolerância para uma volta ao modelo pré-pandemia?

2. Atuação mais colaborativa

Fomentar transformações socioambientais requer atuação menos isolada e mais colaborativa. Esse parece ser um ‘novo normal’ que o setor do ISP parece ter redescoberto, pois já era algo presente no setor, ainda que tenha sido amplificado com a pandemia. Talvez por necessidade, é verdade, mas percebeu-se que atuar de forma colaborativa requer mais jogo de cintura, mas é seguramente muito mais potente e profundo.

Perguntas que ficam: qual colaboração? Quando colaborar é mais efetivo e faz mais sentido e quando não? A colaboração é sempre a melhor alternativa?

Dica: publicação que acaba de ser lançada pelo GIFE traz ótimas reflexões e casos práticos sobre o tema.

3. Modo emergencial-assistencial vs. Transformações estruturantes

A pandemia fez com que institutos e fundações voltassem sua artilharia para enfoques mais emergenciais/assistenciais; projetos foram redimensionados ou suspensos, iniciativas foram colocadas de pé com urgência, etc. O sentido de urgência tem falado mais alto e tornado a atuação mais focada em amenizar efeitos da pandemia e apoiar grupos sociais e organizações que mais têm sofrido com a pandemia.

A pergunta que fica é se já seria hora de retomar enfoques mais estruturantes, mantendo o modo emergencial-assistencial em operação? Um modo de atuar precisa necessariamente anular o outro? Até quando será necessário atuar no modo emergencial-assistencial?

4. Horizonte temporal de mais longo prazo

Em geral, o setor do ISP no Brasil costuma trabalhar com projetos anuais (no máximo bianuais), e tem percebido com a pandemia a necessidade de estabelecimento de parcerias mais duradouras, de mais longo prazo, proporcionando um ambiente de maior confiança e segurança para as organizações parceiras. Seria possível sairmos da lógica de projetos anuais para relacionamentos de mais longa duração?

Convém lembrar que projetos anuais trazem uma necessidade nas organizações sociais de esforço permanente de elaboração de projetos, captação de recursos, implementação dos projetos em si e prestação de contas/avaliação. Em ciclos anuais, isso gera efeito ainda mais desafiador para estas organizações concentrarem seu foco na ‘ponta’, nas intervenções com as comunidades, ao invés de estarem em permanente estado de mobilização de recursos e parceiros (foco no ‘meio’).

Ninguém sairá ileso

O setor também não sairá ileso a esta crise. A pergunta que fica é se saberá extrair aprendizados que permitam repensar seu propósito e seu modo de atuar?

Não se trata de reproduzir o mantra da reinvenção pela reinvenção, mas sim de aproveitarmos uma janela de oportunidades que a pandemia nos coloca para nos fortalecermos como setor. Afinal, quem ganha com uma sociedade civil plural, atuante e fortalecida?

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