Neste novo artigo
procuro expor
porque a minha opção
por narrativas não óbvias
e análises mais críticas
sobre os temas
em que atuo
nunca precisamos tanto
de leituras críticas
da realidade
boa leitura ; )
#impactonaencruzilhada
Porque narrativas críticas?
Não é de hoje que sigo um caminho mais crítico e ácido nas minhas reflexões sobre os temas em que estou envolvido:
– investimento social privado/filantropia
– inovação social
– negócios de impacto
Desde meu segundo livro (2017) – ‘Reflexões contemporâneas sobre investimento social privado’ (PDF grátis aqui) e mais claramente com o atual (2019)- ‘Impacto na encruzilhada’ (PDF grátis aqui) venho tentando me firmar nesta trilha incômoda e por vezes indigesta que, por vezes, me amplifica a sensação de estar numa ‘festa estranha com gente esquisita’.
Remar contra a correnteza, como muitos sabem, é bastante desafiador. Muitas portas se fecham, outras se abrem, é verdade, mas o que mais pesa passa pela consciência: seguir rumo ao propósito de vida ou se auto-enganar com saídas mais óbvias e fáceis.
Mas porque trazer provocações incômodas e não óbvias?
Não seria mais fácil seguir a onda do senso comum que tanto abunda aqui e acolá?
Ao menos por 6 motivos:
1. Porque acredito no potencial transformador destes campos
ainda que eles venham operando abaixo do seu potencial transformador
em outras palavras:
– essas áreas podem entregar mais do que vêm entregando para a sociedade
algo que vai muito além de um relatório anual com fotos bonitas, e tapinha nas costas da mantenedora, conselho, etc.
Afinal, sua organização está afim mesmo de mexer ponteiros na sociedade?
Ou vai seguir apenas fazendo de conta que tenta fazê-lo?
2. Porque é necessário tentar contrapor o jogo de forças político-institucionais do setor
que favorece os players grandes e as narrativas óbvias que não ameacem o status quo vigente
em outras palavras:
– quem é player grande seguirá sustentando narrativas de que ‘vai tudo bem no setor’ (e variações do tipo ‘como nosso setor evolui e contribui’) e que apenas ajustes pontuais (reformas internas e externas) são necessários pra que as coisas sigam bem
e
quem é mediano e pequeno seguirá à margem e com pouca voz efetiva de trazer olhares incômodos e dissonantes, afinal, pode gerar incômodos e mal estar no setor e isso pode ser interpretado como crítica destrutiva ou irresponsável, afinal, nossos ‘inimigos são outros’. Será mesmo que uma coisa inviabiliza a outra?
3. Porque parece que o campo frequentemente entra numa espécie de cortina de fumaça sobre qual o seu real propósito?
Afinal, a quem servimos ou deveríamos servir?
A sensação que tenho é que frequentemente nos auto-enganamos nesta questão olhando mais pra dentro de nossas estruturas institucionais do que pra fora, para onde deveríamos focar nossas energias.
Somos burocráticos, lentos, vaidosos e parece que gostamos de nos perdermos nos meandros institucionais e linguagens próprias do setor. A pandemia ter escancarado também isso, mostrando que dá pra fazer as coisas de forma muito mais ágil do que costumamos atuar. Viva!
4. No limite, nossa função como campo se desfaz na medida em que formos bem sucedidos em nossa missão maior
certo?
em outras palavras:
– nos tornaremos inúteis e sem função quando boa parte dos problemas socioambientais forem resolvidos, por nós ou não, e daí cairemos numa profunda crise existencial?
Afinal, não é isso que buscamos desde sempre? Não a crise existência, mas que os problemas socioambientais sejam resolvidos ou ao menos bem encaminhados.
Pois é, mas às vezes não é o que parece…
5. Porque acredito que o setor pode seguir evoluindo não para ser uma espécie de ‘bom ar’ que torne práticas de degradação socioambiental mais ‘palatáveis’
mas sim, para tentar alterar, por dentro e por fora, o status quo das estruturas destes sistemas em que estamos inseridos.
em outras palavras:
– às vezes somos ‘usados’ para mostrar o lado bom de um sistema desigual e injusto ou até mesmo como carta branca para empresas seguirem sendo o que sempre foram. Afinal, ‘habemus um instituto’ e isso parece ainda bastar.
6. Porque acredito em nosso papel de hackers neste sistema em que estamos
Pra isso é preciso incorporar esse papel de hacker e aliviar nossa sensação de pequenez frente a grandes estruturas e forças que temos que alterar. Seria incorporar, na prática, o famoso ‘comer pelas beiradas’ mas sem nos perdermos no rumo desta longa e árdua caminhada.
Todas essas inquietações seguem fazendo sentido pra mim caro(a) leitor(a), portanto, não tenho qualquer pretensão de te convencer a assumir essa bandeira. Fique tranquilo(a).
Como não há almoço grátis e como bem lembra o filósofo (Edgar Morin) ‘pelas ideias somos capazes de cometer loucuras’ sigo essa incômoda caminhada, por vezes libertadora, por vezes rotuladora e fechadora de portas, por vezes as duas coisas.
Talvez seja aí onde eu esteja neste exato momento.
* * * * *
quem sobreviveu até aqui, deixo uma leitura bônus sobre o cenário político em que estamos, mas com uma narrativa com a qual me identifico muito.