muito se espera do capital filantrópico
na agenda de negócios de impacto

 

mas é preciso compreender
que além de ser uma agenda nova
para institutos e fundações

 

há formas bem diferentes de encará-la

 

neste novo artigo
proponho 6 formas
meramente ilustrativas de
como o chamado
investimento social privado
tem se aproximado (ou não)
desta agenda

 

Boa leitura ; )
hashtagimpactonaencruzilhada


6 formas de institutos e fundações se relacionarem com a agenda de negócios de impacto

 

Tenho procurado debater e atuar na confluência entre o chamado Investimento Social Privado (ISP) e o campo dos investimentos e negócios de impacto. Como muitos já sabem, o tema é novo para o universo de institutos e fundações e vem despertando curiosidade, inquietações, desafios e oportunidades.

Alguns pontos de partida, embora já ditos e escritos diversas vezes, merecem ser reforçados:

– de que investimento de impacto não é evolução da filantropia, mas sim coexistência

– que OSCs não tem que se tornar negócios de impacto, como um destino inevitável para uma suposta adaptação a um novo contexto. As OSCs precisa ligar com a dimensão econômica – seja melhorando seus processos de mobilização de recursos, seja lidando com geração de receita, seja com braço de negócios, etc.

– que boa parte de institutos e fundações, no país, ainda não são percebidos como players ativos neste novo campo. Talvez ainda sigam observando pela janela essa paisagem, como a foto que ilustra este artigo.

– que há muito potencial de sinergias entre estes campos afins – filantropia/ISP e investimento de impacto, cada qual com seus instrumentos e ferramentas, mas ambos almejando contribuir para gerar impacto positivo na sociedade.

– que há barreiras que dificultam um maior engajamento de institutos e fundações neste campo, boa parte destes desafios superáveis como já discutido anteriormente.

 

Ando bem engajado com esta agenda e tenho visto 6 diferentes formas (ou posturas) de institutos e fundações se envolverem com ela. Gravei um vídeo no meu canal sobre essa conjuntura onde propus 6 diferentes formas de engajamento. Longe de esgotar o tema – que é novo e está em franco movimento – que estas ideias sirvam de estímulo à reflexão sobre o tema, sintetizei este conteúdo neste artigo:

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

 1. Observador (ou voyeur)

São aqueles institutos/fundações que observam de longe esta agenda e não fazem grande esforço de aproximação. Aparentemente é uma agenda que não tem importância para sua atuação.

São meros espectadores, a distância, e podem vir a adotar outra postura com o passar do tempo. A conferir.

 

2. Dona Fifi

Figura famosa de pessoa fofoqueira que fica na janela observando e comentando sobre a vida alheia. Esta postura é similar à anterior, mas para além de observar assume também um papel de ‘comentarista equivocado’ sobre o tema. Podem ser consideradas como narrativas caricatas desta corrente:

‘as ONGs vão virar negócios sociais’

‘investimento de impacto é a evolução da filantropia’

Quanto maior o peso institucional desta ou daquela fundação com esta postura, há certamente impactos negativos no setor sobre suas falas, lembrando que enfrentamos também neste campo uma disputa de narrativas.

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

 3. Me inclua fora dessa 

Aqui poderiam entrar aqueles institutos e fundações que fizeram suas reflexões internas sobre o tema e optaram por não se engajar nele.

Sem dúvida é um posicionamento que merece nosso respeito, embora possamos divergi-lo. Talvez o ponto central aqui seria tentar compreender quais são os fatores que levaram a organização a não se envolver com esta agenda. Daí poderiam se extrair contra-argumentos e compreensões que permitiram aprofundar este debate, trazendo nuances e óticas talvez não percebidas até então. Por fim, devemos também considerar que nem todos as organizações, atores e setores vão ‘morrer de amores’ pela agenda de impacto, e tudo bem.

 

4. EGOssistema

Sim, isso mesmo que você leu: EGO e não ECO.

O ponto central desta postura é o discurso sempre presente de fortalecimento do ecossistema, de contribuir com este campo, etc, mas com práticas que vão na contramão desta intenção.

Vê-se, em geral, práticas que buscam mais auto-referenciar a atuação deste instituto ou fundação ao invés de, de fato, gerar amplo conhecimento e fortalecimento deste ecossistema para além das suas próprias fronteiras institucionais.

Convém lembrar que nenhuma organização tem a obrigação de atuar nesta agenda com a missão de apoiar este ecossistema. Embora este propósito tenha se tornado quase um mantra do setor, pela sua necessidade e concordância, cada instituto/fundação pode e deve traçar seus próprios objetivos no engajamento nesta agenda.

Entretanto, seria correto que ao menos seu discurso fosse ajustado à esta realidade de atuação. Em muitos casos, a narrativa mais honesta poderia ser: precisamos fortalecer o ‘nosso’ ecossistema.

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

 5. Caroneira

Esta postura está ancorada em engajamentos de ocasião combinados com narrativas fortes. Em outras palavras: fala-se muito e faz-se pouco.

Ilustram essa postura institutos/fundações que fazem muita fumaça anunciando iniciativas que são frágeis em termos de consistência: sem orçamento próprio, sem parceiros relevantes neste terreno, etc.

Obviamente posturas como esta – seja neste ou em qualquer outro campo – são passíveis de questionamentos e deixam transparecer ‘furos’ em análises mais atentas.

O que mais me incomoda nesta postura é que toda a fumaça que ela faz acaba confundindo e iludindo alguns outros players do setor. Na metáfora futebolística, lembra aquele ponta esquerda de um certo time que faça muita fumaça, incomoda a defesa adversária, mas não gera chances de gol à sua equipe. Muito barulho pra pouco resultado.

Vale lembrar que às vezes o distanciamento entre discurso e prática de um instituto/fundação é justificado pelos vários desafios, dilemas e incertezas que ainda permeiam a aproximação do ISP com este campo – em geral aspectos jurídicos e contábeis que de desdobram em aspectos institucionais.

Como já debatemos anteriormente, embora sigam existindo desafios e barreiras, grande parte deles é superável, basta um pouco de boa vontade e coragem para encará-los e desdobrá-los internamente. Portanto, seguir sustentando-os como desculpa, parece não fazer mais sentido.

 

6. Cair pra dentro 

Finalmente a postura onde se encontra os institutos e fundações que estão mais engajados com a agenda. Ela consiste basicamente em assumir os desafios e as oportunidades desta agenda e encará-la, trazendo pra estratégia do instituto/fundação e desdobrando em projetos, parcerias, orçamento. Sim, é preciso materializar essa agenda na caixa de ferramentas do instituto/fundação.

Convém lembrar que esta corrente tem compartilhado certa compreensão que passa por:

– capital filantrópico tem papel relevante na construção deste campo – em especial apoiando este ecossistema e suas organizações intermediárias. Sim, pode haver divergências neste ‘mantra’, mas me arrisco a dizer que eles são mais de método do que de premissas.

 

Vale ressaltar que a pandemia evidenciou o quanto organizações intermediárias são fundamentais para o avanço deste campo – em especial para qualificar pipeline, ampliar repertórios e experimentar novos instrumentos financeiros – e, ao mesmo tempo, como elas são frágeis em termos de sustentabilidade econômica.

Globalmente tem sido a filantropia e o governo quem tem se encarregado de oferecer suporte (leia-se financeiro e não financeiro) a estas organizações. Estudo da Maze (de Portugal) mostrou bem esse e outros aspectos. Recomendo leitura.

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

Por fim, todas as 6 posturas são meramente ilustrativas e dada a dinâmica e evolução rápida deste campo, e os efeitos da pandemia, são igualmente passíveis de novas atualizações e reflexões.

Aos institutos/fundações que seguem esperando o ‘momento certo’ para se engajar com o campo de negócios de impacto, infelizmente me arrisco a dizer que não há um momento certo. Seguir observando de longe o avanço da agenda ou apenas participar de um ou outro evento ou discussão, não necessariamente trará mudanças de ponteiros no interior da sua organização. Talvez seja preciso ‘molhar o pé nesta água’ ao invés de seguir observando o lago de longe ou de perto.

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

Por fim, indico o vídeo onde eu fiz essa análise de conjuntura com mais profundidade, deixando claro que não sou youtuber nem quero ser. E pra ainda não conhece meu último livro – Impacto na Encruzilhada – muitos destes temas incômodos ao ecossistema são discutido lá. Em setembro tem livro novo na área. Aguarde.

1 comment
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Penso que você vai gostar

envelhecer

“foi-se o tempo em que a vida dava tudo de bom e…

meu unicórnio era um pangaré

que ótimo! apostei todas as fichas no unicórnio dourado mas logo após…