Neste artigo escrito para o Notícias de Impacto, o autor relembra sua trajetória no campo e fala sobre o desenvolvimento dos negócios de impacto no Brasil nos últimos sete anos.


Passei a me aproximar da agenda de negócios de impacto a partir de 2013, quando organizei um livro sobre Investimento Social Privado (disponível aqui: https://institutosabin.org.br/site/garanta-ja-seu-exemplar/). Nele trazíamos diversos artigos, dentre eles um da Vox Capital, de Daniel Izzo, que continha um box sobre a Saútil, um ex-case de negócio de impacto. Anos depois, após muita luta e pivotagem, o negócio fechou, infelizmente. Na época, era dos poucos cases que tínhamos no campo. Se hoje, muitas vezes, reclamamos de poucos cases, anos atrás isso era ainda mais gritante.

De lá pra cá, pude participar das três edições do Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto (2014, 2016 e 2018). Presenciei a evolução a olhos vistos do tema: mais pessoas, mais organizações e mais complexidade, ainda que este último aspecto seja, por vezes, pouco incensado.

Nesse período, notei também uma mudança de nomenclatura – de finanças sociais e negócios de impacto (não só no nome do fórum, mas este era o termo amplamente usado no campo) para investimentos e negócios de impacto. Para além de um eventual alinhamento com questões globais (Global Steering Group, GSG, e afins) e com o crescimento desta indústria, curiosamente pouco se falou sobre essa mudança por aqui. Para além do ajuste de nomenclatura, não há mais nada a considerar nesta mudança? Nenhuma reflexão ou debate mais profundo?

Minha porta de entrada neste campo se deu pela Artemisia – organização pioneira que estava no campo antes de ser um campo. Foi pelas mãos da Artemisia que fui “iniciado” neste tema. Sem dúvida, estava em ótimas mãos e sou profundamente agradecido por esta valiosa e generosa ajuda. Sigo sendo do ‘fã-clube’ da organização até hoje, como costumo brincar.

Durante esta trajetória também notei algumas coisas:

1. Mais organizações se aproximando do tema: a) mais institutos e fundações, embora ainda sejam numericamente menos do que gostaríamos; b) mais OSCs se percebendo como possíveis intermediários ou experimentando soluções de mercado, ainda que sigamos com dificuldade de enxergar o campo do impacto como sendo parte deste grande campo da sociedade civil; c) mais empreendedores de impacto com mais soluções (e consequentemente mais deals e mais investimento. Aqui faço um destaque para as diversas plataformas de crowd (equity e empréstimo coletivo) que cresceram a olhos vistos desde então. Viva!

Embora essa coleção de “mais” seja digna de celebração, lembremos que os “convertidos” neste campo cabiam antes numa Kombi e agora talvez encham alguns poucos ônibus. Avanço notável, porém ainda longe de estourar a nossa própria bolha.

2. A capilaridade regional avançou, mas ainda dependente do centro do ecossistema (leia-se: São Paulo). Em outras palavras, há mais vida pulsante em ecossistemas locais e regionais do que no início, aliás, eles passaram a ser notados (que ótimo), mas ainda há uma avenida de desafios e oportunidades pela frente.

3. Complexidades: há mais tipos de negócios de impacto, com diferentes tipos de programas de aceleração, mais diversidade de tipos de organizações intermediárias, etc. Essas complexidades evidenciam que o setor vem avançando e abrindo espaço para diversas outras formas de vida nestes múltiplos ecossistemas. Um exemplo didático disso é o crescimento da agenda de negócios de impacto periféricos, que no início desta minha jornada pelo campo do impacto não era um tema forte, como é hoje. Que bom!

A caminhada até aqui me traz uma visão um pouco mais longa da curta história do campo no Brasil. Como é um campo em franco crescimento, há muitos novos entrantes chegando. Além disso, há ainda muito por ser feito, muitos novos contornos e caminhos a trilhar. Talvez estejamos entrando numa nova fase que, para além do mantra de “mais negócios e mais investimentos”, poderíamos também abrir espaço para mais complexidades, mais divergências positivas e mais capilaridade regional. Essas camadas, a meu ver, poderiam pavimentar um caminho com múltiplas portas de entrada, múltiplas visões e inúmeras oportunidades para diferentes players afins a esta agenda. Apostarmos em uma única porta, em uma narrativa majoritária e na concentração de oportunidades em São Paulo não me parece condizer com a complexidade e o hibridismo que o mundo pós-pandemia tenta nos mostrar, embora muitas vezes refutamos em enxergar.

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