Ando meio cansado de escutar a velha máxima de que ‘sobram recursos, faltam bons negócios (ou projetos)’ e quanto mais eu rezo, mais escuto essa pérola por aí. Até entendo que a frase tem lá seu naco de realidade, afinal, há sim uma disponibilidade crescente de recursos (leia-se: investimentos) para certos tipos de negócios e/ou de projetos.

Vamos destrinchar um pouco mais esse assunto.

De um lado, nos cabe sempre questionar: que tipo de recursos andam sobrando? Recursos de que natureza? Que buscam que tipo de iniciativas? Com qual apetite em termos de expectativa e prazo de retorno?

(já abordei esse assunto aqui no meu podcast: EP 59)

O que tenho visto é uma oferta crescente de fundos (de tickets de médios a mais elevados) que buscam ‘negócios prontos’. Mas o que significa, na lógica dos investidores, ‘negócios prontos’?

Significa basicamente negócios de impacto que já validaram sua proposta de valor e seu modelo de negócio, e que já apresentem faturamento consistente. Ganha um doce quem sinalizar onde estão negócios deste tipo e quem são seus empreendedores.

Sim, via de regra homens brancos, bem formados de grandes centros urbanos (não necessariamento do eixo RJ-SP). Pois bem, essa galera já queimou seus próprios recursos e agora busca captar investimento para seguir crescendo.

E do outro lado dessa balcão essa galera encontra fundos e investidores dispostos a colocar valores de 400mil a 2 milhões de reais (em média). Obviamente é um ticket considerável, não?

A questão que decorre daí é:

E aquela porrada de negócios de impacto que ainda não consegue chegar nesse patamar? Detalhe: são a maioria dos negócios de impacto, sobretudo se olharmos com lente regional (Nordeste, Amazônia, Centro-Oeste).

Olhando para essa porrada de negócios, afinal, anda sobrando recursos para eles também? Ou anda sobrando recursos apenas para os negócios que conseguiram alcançar algumas prateleiras acima da deles?

Pra fechar esse lado do ‘sobram recursos’, nos cabe questionar que tem faltado recursos para certos estágios/tipos de negócios, em certos territórios/geográfias e liderados por certos tipos de empreendedores.

Como o(a) leitor(a) pode perceber, nada mais alinhado à diversidade do nosso país, não? Afinal, por onde anda o tal ‘capital paciente’ que deveria apoiar essa turma que anda no meio da tabela dessa segunda divisão de negócios de impacto? Aqui, digo sem receio de falar besteira: como faltam recursos para essa turma!

O outro lado dessa prosa passa por questionar a expressão ‘bons negócios’.

Afinal, essa turma que joga arduamente a segunda divisão do setor seria considerada ‘bons negócios’? Na régua amplamente utilizada não, pois não se enquadrariam como aptas para acessar aqueles recursos (de 400mil a 2 milhões de reais).

Num rápido exercício de raciocínio lógico, se eles não são considerados ‘bons’ negócios devem ser considerados o quê? Deixa pra lá.

Pra fechar, reitero meu incômodo (e o de tantos por aí):

– esse papo de que ‘sobram recursos’ gera muito desconforto e deve ser questionado. Afinal, pelas bandas do impacto fora do eixo seguimos à procura do tal capital paciente. Quanto a ele, ninguém sabe, ninguém viu, embora siga sendo tão aguardado e necessário.

 

Post originalmente publicado em Impacta Nordeste

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