enquanto lavava a louça
e pensava nas tarefas domésticas
um turbilhão de perguntas
desabou sobre sua cabeça:
dias contados para o negacionismo?
carreata do ‘não-pode-parar’ pode Arnaldo?
como será a pós-verdade no pós-covid?
quem fatura $ com a crise?
se todos vão perder, quem vai perder mais?
quem doa com um bolso, seguirá ampliando riqueza com o outro?
assusta ver a essência mesquinha das pessoas?
é só usar máscara e tá tudo dominado?
o home office será sustentável ou vôo de galinha?
e quem ficará sem home e sem office?
quarentena é um sabático não gourmet?
isolamento é coisa de classe média?
quem não tem fundo patrimonial, como faz?
filmes com futuros distópicos já não nos prepararam para a pandemia?
partiu marte? há vagas?
o Estado é forte ou fraco quando apoia os bancos?
isso que vivemos agora é o futuro? já chegou?
tem como parar pra eu descer?
….
enquanto um novo download
com mais perguntas
tentava chegar pela banda lenta
valorizou como nunca
a diária da diarista
como ela conseguia fazer tanta coisa
uma vez por semana?
louça encaminhada
e mais um podcast ouvido
enquanto via da janela
a empregada do vizinho
indo e vindo todo dia
sem máscara
sem brilho no olho
sem opção
#impactonaencruzilhada