dá licença
temos que abalar
as estruturas desiguais deste país
e, portanto
pisar em alguns calos
de sapatos de marca

sim
vidraças podem ser quebradas

afinal
não foi na força bruta
que o Brasil se constituiu?

Ou, por acaso
os escravos vieram pra cá
pra
escalar empreendimentos?

já reparou que
nós que atuamos
com impacto socioambiental
com frequência pisamos em ovos
pra não dizer as coisas
como elas são?

por acaso
nossa desigualdade social escandalosa
é uma mera consequência da meritocracia?

por acaso
esse mercado que tanto incensamos
não é também parte do problema
em que estamos metidos?

nosso preconceito racial
é mesmo fruto de
uma mera opção individual?

nosso Estado protege igualmente
a todos, independente da sua
classe social, raça, etnia, identidade de gênero?

aos que ainda não se ligaram
que o buraco é mais embaixo
e que ele passa por
– política, questão racial, desigualdade social, etc –
seguiremos enxugando o gelo
em prol de um suposto
impacto social positivo

é possível alcançar o tal
eldorado prometido pelo ESG
sem desconforto?
sem rediscutir privilégios?
sem fortalecer nossa já frágil democracia?

não advogo em prol
de revolução
(há outras vozes que o fazem e
se ainda vivemos numa democracia
são vozes válidas)
mas me soa ingênuo
apostarmos em pequenos remendos
no capitalismo

mais verde
mais descarbonizado
mais diverso

sim
isso o torna um pouco menos
equivocado
mas
seguimos longe de torná-lo
mais justo, ético e inclusivo
a bilhões de pessoas
que seguem à sua margem

e
pelo visto
seguirão

#impactonaencruzilhada

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