Inovação Social está em alta. Fala-se tanto do assunto, mas será que estamos falando sobre a mesma coisa? Afinal, de qual inovação social estamos falando? Este é o ponto de partida do meu quinto livro: Inovação Social em tempos de soluções de mercado.

Os tempos em que estamos são complexos. De um lado, a pandemia e as crises política e econômica atuais escancararam problemas socioambientais em nosso país, mostrando que, a despeito da relevância do setor privado neste tabuleiro, sociedade civil e Estado seguem sendo atores fundamentais neste jogo.

É preciso reconhecer o frisson que as ditas soluções de mercado (para endereçar questões socioambientais) recebem e o quanto elas mobilizam tantos de nós em discussões e eventos do setor. É preciso, obviamente, reconhecer a potência destas soluções, mas, ao mesmo tempo, refletir sobre suas contradições e limites. Afinal, a despeito de uma certa narrativa que nos cerca de que: as empresas e o mercado vieram ‘resolver’ os problemas socioambientais que nem Estado, nem filantropia, nem sociedade civil deram conta de ‘resolver’, entendo que é fundamental fazer um debate bem mais profundo do que esse tipo de fala.

Em tempos de arranjos complexos muito bem formulados pelos ODS, supor que um setor resolverá essa ‘parada’ que outros setores supostamente não conseguirem ‘resolver’ é uma formulação bastante rasteira e equivocada. Obviamente a relevância do setor privado neste tabuleiro é bastante evidente na atualidade, tendo ela, inclusive um papel central no campo do Investimento Social Privado (ISP) em nosso país.

Na esteira destas soluções de mercado os negócios de impacto/negócios sociais se apresentam como uma das pontas de lança da emergente indústria global do ‘investimento de impacto’. Gostemos ou não dela, concordemos ou não com suas premissas, é fundamental reconhecer sua potência, sua presença e seu avanço, e, ao mesmo tempo, compreender suas contradições, sobretudo para permitir o aprofundamento de interações com o campo da filantropia, do ISP e da sociedade civil.

Afinal, nos restará, como sociedade civil, atuar a serviço do mercado? Nosso papel será adentrar nesta nova agenda encarando-a como uma ‘evolução’ da filantropia? Já discordei dessa equivocada visão anteriormente* e sigo encarando essa nova agenda como uma nova abordagem/ferramenta que a filantropia/ISP/sociedade civil podem ou não lançar mão para o alcance de suas finalidades. Um exemplo didático foi o CRA que o MST captou em 2021, usando mecanismos de mercado para financiar produção agroecológica.

Para alguns atores da filantropia essa aproximação já é uma realidade, para outros não. O ponto central, a meu ver, passa pela nossa capacidade como setor de compreender as muitas camadas de complexidade, de potência e de contradições que essa agenda nos apresenta. Defendo que o façamos a partir da ótica da inovação social, por compreendê-la como sendo a mais adequada para nos guiar por estes caminhos.

Essas e outras questões são apresentadas e debatidas no livro. Longe de esgotar um tema em construção e, portanto, em disputa, a proposta do livro teve como objetivo oferecer um quadro onde essas questões pudessem ser didaticamente apresentadas, a partir de uma visão mais crítica.

O convite que faço é para pensarmos mais fundo nas causas dos problemas socioambientais e não apenas em seus efeitos. Um convite para valorizar tanto a forma (o método e as ferramentas) quanto as finalidades de nossas intervenções. Um convite a olharmos além das soluções de mercado para endereçar essas questões. Enfim, um convite a dobrarmos nossa aposta no fortalecimento da democracia, no combate à injustiça social e climática e a tantas violações e preconceitos que nos cercam. A inovação social que me inspira segue por essas trilhas. E a sua?

 

Postado originalmente em Rede Filantropia

Imagem de Capa: Portal Impacta Nordeste

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