Afinal, quais são os diferentes tipos de negócios de impacto que temos por aqui?
neste artigo eu levanto algumas possibilidades
Boa leitura : )

Refletindo sobre Tipologias de negócios de impacto

Alguns exercícios têm sido feitos com o intuito de propor tipologias para os diferentes tipos de negócios de impacto existentes no Brasil. Possivelmente o recorte mais utilizado seja o combo formato jurídico (OSCs, cooperativas e empresas) + destinação dos dividendos. Esse combo parece ter se tornado o padrão que predomina no setor.

Fonte: https://pagina22.com.br/2019/05/17/lucro-e-proposito-juntos-em-campo/negocios-de-impacto-2/

Ainda que ele dê conta de apresentar um quadro útil para quem atua neste campo, ao menos duas problematizações poderiam caber nesta discussão.

A primeira passa pela limitação que este combo tem trazido ao encaixar toda a diversidade de tipos de negócios de impacto. Afinal, um negócio de impacto periférico estaria em qual categoria? Um negócio comunitário da amazônia em qual tipo? Um micro-empreendedor rural em qual tipo?

Embora seja possível encaixar esses exemplos no modelo já existente, ele tende a simplificar demais outros aspectos que estes (e tantos outros) negócios trazem consigo. Falaremos mais adiante sobre isso.

A segunda problematização passa pelo aprendizado que já foi (e segue sendo) construído fora do país sobre esse assunto. Afinal, não é preciso inventar a roda, ainda que as rodas já inventadas precisem ser devidamente adequadas ao contexto e à realidade de cada país.

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Longe de esgotar o tema, trago uma referência de Portugal que nos apresenta, de forma bastante suscinta, uma tipologia à luz da realidade daquele país:

https://saladeimprensa.ces.uc.pt/index.php?col=opiniao&id=35273#.YeVh6_7MJPZ

No artigo foram propostos 5 tipos de negócios de impacto a partir da realidade portuguesa, e levando em conta as dimensões social, econômica e de governança. São eles:

Fonte: elaboração própria a partir do artigo: https://saladeimprensa.ces.uc.pt/index.php?col=opiniao&id=35273#.YeVh6_7MJPZ

Olhando para o quadro e também para um conjunto de negócios de impacto já conhecidos a partir da minha caminhada profissional, me arrisco a levantar 4 critérios/recortes possíveis para a construção de tipologias para negócios de impacto no Brasil.

 Recorte 1: combo formato jurídico + questão da destinação dos dividendos

Basicamente é o modelo atual vigente, que categoriza os negócios de impacto em:

– OSCs com modelo de negócio e/ou com modelo híbrido

– Cooperativas

– Negócios de Impacto (empresas) com ou sem distribuição de dividendos

Esta tipologia traz consigo alguns pontos cegos:

– onde entraria nela os negócios que são MEI? Onde entrariam os atores da economia solidária?

Recorte 2: finalidade/tema central do impacto gerado

Algo similiar ao que, em parte, fez a proposta portuguesa (item 3 do quadro), é possível encontrar agrupamentos de negócios de impacto a partir de suas verticais temáticas. Assim temos agrupamentos de negócios de saúde, habitação, educação e por aí afora. Esse recorte já é praticado por aqui, mas talvez ainda tenhamos extraído pouco tutano daí. Afinal, negócios de impacto de saúde, por exemplo, guardam entre si que tipo de semelhanças e diferenças? São predominantemente empresas? Repartem ou não dividendos?

Os dados que temos disponíveis no ecossistema de impacto (Mapas da Pipe Social, por exemplo) nos mostram os temas (ODS) mais endereçados pelos negócios de impacto, mas não nos apresentam uma lupa destes negócios de cada um destes clusters. Não é uma crítica ao Mapa, que por sinal, é uma das poucas e consistentes iniciativas de radiografia do setor.

Recorte 3: aspecto identitário

Outro recorte possível passa pela dimensão identitária. Um exemplo mais fácil de perceber no setor são os negócios de impacto periféricos (NIPs) que, embora sejam também diversos entre si, carregam consigo elementos identitários comuns. Afinal, eles se reconhecem como sendo um tipo/grupo/tribo dentro do campo de negócios de impacto?

Outras possíveis tribos seriam as dos negócios comunitários (segmento que tem sido atendido pela Conexsus, por exemplo), e por aí afora. Há outros recorte identitários possíveis, mas que ainda têm sido pouco explorados no setor. Eles poderiam ser úteis ao permitir enxergar com mais nitidez as nuances e características destas tribos que no conjunto do setor acabam sendo diluídas.

Recorte 4: aspectos regionais

Uma possível continuidade do exercício identitário anterior pode desaguar na perspectiva regional. Regiões e localidades menos maduras no tema tendem a se identificar mutuamente e construir maior proximidade entre si. Daí é comum se deparar com listas de negócios de impacto amazônicos, do Nordeste, e por aí vai. Embora esses blocos contenham negócios com características muito diversas entre si, talvez a liga que eles mais tenham seja a regionalidade (desafios de seus ecossistemas locais, aspectos culturais, desafios na sua relação com o eixo RJ-SP, etc).

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E você e sua organização? Como lidam com as muitas possibilidades de tipologias para negócios de impacto?

No meu mestrado, em 2004, já havia me aventurado em tipologias (para centros de educação ambiental). Obviamente pelo tempo já transcorrido, devo confessar que ando meio enferrujado em tipologias. Por isso, muito provavelmente ficaram muitos fios soltos e pontos cegos neste breve exercício que me aventurei a construir aqui. Que possa servir de estímulo a mentes muito mais inspiradas que a minha a avançar por estas trilhas da tipologia de negócios de impacto e afins.

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ex-pecialista

quando eu tinha outro chapéu institucional era convidado para eventos, diálogos carregava…