Cresci na época das fitas cassetes e dos bolachões 

Vi o surgimento do CD

E seu declínio 

Na minha adolescência 

Na casa de um amigo nerd

Tive acesso à internet (que surgia)

Pré Google e pré redes sociais 

Acesso discado e devagar quase parando 

Pra acompanhar as bandas que eu curtia

Precisava sintonizar a mtv 

(Sim, nesta época passavam clipes lá e o sinal caía)

E fanzines das bandas independentes 

Meu primeiro celular foi na universidade 

Um pré pago da tess 

(que muito tempo depois virou claro)

O “tijorola” era o sonho de consumo da época 

O sinal era horrível e o cel só ligava

Quem queria mensagem se aventurava com o bip 

Me lembro de quando a URV entrou em vigor

E logo virou Real

Fui trocar no banco meus cruzeiros reais 

Uma nota de cinquenta valia MUITA grana

A de 100 então, era muito rara

Me lembro do Atari 

Natal de 82 ou 83 

Sonho de consumo da época

Hoje tosco, antes incrível 

Morei em BH

Numa ladeira de paralelepípedo

Quando chovia 

O corcel 1 dos meus pais não subia 

Tinha que dar uma volta pela favela 

Ou deixar na rua de baixo

Lembro do primeiro disco da Madonna 

E de quando a Xuxa ainda era da tv manchete 

Enquanto isso

Silvio Santos já era figura carimbada na casa da vó aos domingos 

E família reunida pra fazer pamonha 

Não me lembro do porquê ter me tornado palmeirense 

Pai corintiano e irmão saupalino 

Vai entender?

Primeiro disco do pearl Jam

(clássico até hoje)

Toquei bateria em bandas adolescentes

Sem nunca ter feito aula

Aprendi no sofá mesmo

E passava vergonha quando meu pai 

Me buscava na escola com a kombi da firma

viagem de férias? Viagem pro exterior?

Carro do ano? Viajar de avião?

Luxos para a vida de classe C 

que tínhamos na época 

Minha primeira viagem de avião 

foi como adulto, já na universidade

Caronas com a FAB

e viagem de ônibus por esse brasilzão

Meu recorde de busão: 96 horas de viagem!

De Santarém à SP

Com trecho de transamazônica e BR – 163 (bem antes dos trechos asfaltados)

Vi meu pai se lascar empreendendo 

Trocar cheque com agiota 

Sócios pra deletar da mente

duplicadas atrasadas 

e dívidas quitadas pouco tempo atrás

Trabalhava de boy

Fazendo serviço de banco 

Pegava o vale transporte e ia a pé 

Pra guardar $ pra pagar a tv a cabo

Item que não cabia nas despesas de casa

Filas intermináveis em bancos 

Muito antes do autoatendimento e dos apps

Bairro de cohab na periferia 

Saíamos de bicicleta correndo

Atrás do caminhão da dedetização da sucen

O mundo que vejo hoje 

É muito diferente deste de onde vim

Lembranças

De tempos materialmente mais duros

E de uma vida infinitamente mais leve 

Mas também, mais limitada 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Penso que você vai gostar

ex-pecialista

quando eu tinha outro chapéu institucional era convidado para eventos, diálogos carregava…